terça-feira, 4 de agosto de 2009

Dos estados da alma


Da calmaria


Que te leve ao fundo,

que te dê centro,

que te entregue paz,

que proveja sustento

para a iminente tormenta

que te toma,

que te tenta.



Da turbulência


Que te leve longe,

que te entregue à margem,

que te revire os planos,

que te dê coragem

para o vai e vem

que te toma,

que te tem.


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Antes das tempestades literais ou metafóricas, há, de fato, uma calmaria, um ar parado, que quase nos faz esquecer que a tormenta é constante da vida. Talvez a calmaria prepare o espírito, alimente o pensar e fortaleça o corpo para suportarmos os ventos e trovões. Talvez ela seja apenas perversa, dando-nos a ilusão do chão. Mas este nos abandona os pés ao primeiro sopro do noroeste. É bom desconfiar de calmarias e apostar mais em turbilhões.


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Someone told me long ago

There’s a calm before the storm,

I know, it’s been coming for some time.

When it’s over so they say

It will rain a sunny day,

I know, shining down like water.

I wanna know have you ever seen the rain

I wanna know have you ever seen the rain

Coming down on a sunny day?

Creedence Clearwater Revival


So the storm passed and every one was happy.

Kate Chopin


Um comentário:

Alexandre Amorim disse...

a ilusão é sempre nossa, meu amor.
Penso na visita ao farol, penso que tormenta e calmaria estão no caminho, e que quem desejou ir ao farol fomos nós.
Enfim, fica tudo na nossa conta.

E, é claro, os poemas estão lindos. Você já passou há muito do exercício para a forma. Poeta de verdade.