quarta-feira, 30 de julho de 2008

Black


Diálogo psicanalítico

Eu:
- Minha mente turva é minha prisão.
Minha alma negra, minha danação.
Tatuei de preto o meu coração.
Tenho salvação?

Minha psicóloga:
- Não.

(O que me vale é ela não saber que minha alma ainda é leve e colorida, como folha de papel pintada com giz de cera. A tatuagem é negra de nanquim e esconde a cor que a dor do prego revela ao arranhar a superfície.)
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“All the love gone bad turned my world to black.
Tattooed all I see. All that I am. All that I’ll be.”

O interessante da deprê do Pearl Jam é que o Eddie Vedder parece ser um cara bem resolvido com ele mesmo. No entanto, é claro que isso não quer dizer nada, pois as tristezas pelas quais a gente passa na vida são mesmo difíceis de apagar, como o próprio Vedder desafia em “Jeremy”: “Try to forget this. Try to erase this.” Cantar as tristezas é uma maneira de lidar com elas, eu penso, e talvez de exorcizá-las. Mas eu nunca vi nada tão triste quanto uma tatuagem negra na alma.
Ironicamente, a tristeza da letra da canção “Black” paralisa o artista: “Sheets of empty canvas, untouched sheets of clay were laid spread out before me as her body once did.”
Além disso, Vedder canta de um jeito tão sofrido que a gente até se compadece de seu sofrimento. Para mim, “Black” é a música mais linda do mundo.

E a letra de “Even Flow”, hein? Alguém?

http://youtube.com/watch?v=ePjESN9pRdg

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Sonetos "Ingleses"

Um meu:

Estive pensando em escrever um soneto,
Que não é mesmo um poema qualquer.
De forma certinha, é branco no preto;
E o poeta não versa do jeito que quer.
Ainda pior é o soneto inglês,
Que exige do bardo bem mais destreza:
Os tercetos se vão, e, vejam vocês!
Há mais um quarteto na poética inglesa.
Os temas são muitos. Façam-me um favor,
Em tempos de hoje, tempos pós-modernos,
Não me venham pedir um soneto de amor
Em que o poeta padece no quinto dos infernos.
Escrevo eu, então, sem sofrer pelo ser amado;
E fecho com um dístico de pé quebrado.
Um do Poeta:
Sonnet 144
Two loves I have of comfort and despair,
Which like two spirits do suggest me still:
The better angel is a man right fair,
The worser spirit a woman coloured ill.
To win me soon to hell, my female evil,
Tempteth my better angel from my side,
And would corrupt my saint to be a devil,
Wooing his purity with her foul pride.
And whether that my angel be turned fiend,
Suspect I may, yet not directly tell;
But being both from me, both to each friend,
I guess one angel in another's hell:
Yet this shall I ne'er know, but live in doubt,
Till my bad angel fire my good one out.
Eu sou engraçadinha.
Mas o Poeta é mesmo genial!

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Ode à Cultura Inglesa


“And if the Blue Sky Mining Company won’t come to my rescue…
if the sugar refining company won’t save me…
who’s gonna save me?”

Quanto mais trabalhei, menos vivi.
Não enriqueci.
Quanto mais trabalhei, menos amei.
Não prosperei.
Não comprei nada do que muito queria.
Não guardei nada pro futuro que viria.
Acumulei cansaço,
gripe,
sinusite
e gastrite.

Mas alguém enriqueceu.
(Não fui eu.)

sexta-feira, 18 de julho de 2008

POR FALAR EM PESSOA


Influências de Pessoa:

1

Como posso ser triste por não ter?
Posso ser triste por não ser.
Posso ser triste por não estar.
O que não tenho não me emociona, afinal,
não me constitui.

2

Passou por mim -
Não viu.
Nem mesmo me encostou.
E ainda assim -
Sorriu.
Aí mesmo me levou.
Por que passa assim tão rente,
se não vai tocar na gente?
Se, depois disso, fica ali,
distante como um santo...
Ora, raios!
Vá sorrir em outro canto!

quinta-feira, 17 de julho de 2008

King of pain


"There's a skeleton choking on a crust of bread."


USELESS UNRELIEVING CRYING

Today I cried a cry for my mind.
For the joyless mind I own.
Today I cried not for the danger,
but for the possibility of danger my mind sees.
I cried for the fearful plots my mind builds.
And then I cried with fear of my mind shackles.
I cried an almost tearless, anguished cry
for not being able to blow my mind.

Le Roi de la douler est mort, vive le Roi!
Eu li que o Sting imaginou que uma das imagens mais tristes seria o verso inicial da música "King of pain": "There is a little black spot on the sun today." Essa canção é assim, é sobre a capacidade de se pensar o infortúnio criativamente, o que, sem dúvida, gera infelicidade onde não há. Daí surge o rei da dor, aquele que inventa a dor que não existe, um pouco como o poeta de Pessoa, mas sem a beleza do fingir poético. É apenas o sofrer estúpido.