domingo, 31 de agosto de 2008

Cine Deus


Uma porta pesada e sem fresta;
Cortina de veludo até o chão.
Abre-se a porta e vejo a honesta,
Ampla e macia escuridão.
Linhas de luzes que dançam em festa
Guiam meus passos para a emoção.
Anjos, heróis, fogo, amor –
Faixa de luz que a sala infesta.
Esses anjos e heróis em technicolor
São toda a metafísica que me resta.


Querer crer na metafísica não é necessariamente poder. Ter como base moral da vida um algo que nunca se viu é, no mínimo, incerto. O mistério da fé é simples e belo, mas muito, muito simples. Quando é genuíno, me emociona, mas não me convence mais. Aquele pessoal que mandava queimar livros não era bobo, não. E como o lúcido poeta dizia: “Há metafísica bastante em não pensar em nada” O poema inteiro está em http://www.jornaldepoesia.jor.br/fp210.html

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

"Intertextualizando"

Eu não sou oco.
Eu teço o fio, eu amo muito e odeio
Um pouco.
Mas não sou oco.
Eu canto e rio e ainda assim eu sofro
Feito um louco.
Mas não sou oco.
Eu sou e eu grito a angústia de ser
E fico rouco.
Mas não sou oco.
Eu não sou oco.
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We are the hollow men
We are the stuffed men
Leaning together
Headpiece filled with straw. Alas!
Our dried voices, when
We whisper together
Are quiet and meaningless
As wind in dry grass
Or rats' feet over broken glass
In our dry cellar

Shape without form, shade without colour,
Paralysed force, gesture without motion;

Those who have crossed
With direct eyes, to death's other Kingdom
Remember us--if at all--not as lost
Violent souls, but only
As the hollow men
The stuffed men.

T.S. Eliot

Esta é apenas a primeira parte de “Hollow Men”, de T. S. Eliot. Na íntegra, pode ser encontrado em http://poetry.poetryx.com/poems/784/ . Acho que Eliot quis passar a idéia de que é melhor ser qualquer coisa a ser vazio, oco, “quiet and meaningless”. Mesmo ser uma alma perdida e violenta é melhor do que ser oco ou empalhado. E ainda, alguma forma de ação é necessária na vida, caso contrário, somos força paralisada, sem voz e sem espaço.
Há um poema de Francisco Otaviano que, de forma mais simples, mais popular e menos criativa, mas bonitinha, transmite uma idéia semelhante:

Ilusões de Vida

Quem passou pela vida em branca nuvem
E em plácido repouso adormeceu;
Quem não sentiu o frio da desgraça,
Quem passou pela vida e não sofreu,
Foi espectro de homem - não foi homem,
Só passou pela vida - não viveu.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Isto não é um poema

Isto não é um poema.
Isto é só um estratagema para demonstrar o fato de que
Isto não é um verso.
Isto é só texto transverso onde eu apenas desconverso
Sobre a questão de que não vou escrever uma obra-prima.
Isto não é uma rima.