quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Eu nem ligo

"Cê sai de perto eu penso em suicídio,
Mas no fundo eu nem ligo"
Eu queria ter uma bomba, Cazuza

Ela chega.
Ele sai.
Ela vem.
Ele vai.
Para onde vai o olhar
quando a boca já não diz:"te sigo"?
No fundo eu nem ligo.
Ele sobe.
Ela cai.
Cai em danação.
Cai.
Queda luciférica.
E cai
gritando, histérica:
Eu só queria ser igual.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Poeminha triste para quem não tem o que queria


Queria uma noite,

Levei um dia.
Queria paixão,
Levei apatia.
Queria romance,
Biografia.
Queria ousar,
Levei covardia.
Queria balada,
Levei elegia.
Queria dor,
Anestesia.

Vidinha vazia...

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Sete anos

Um soneto meu:

“Sete anos de espera”, me dirias.

“Não é tempo por demais?”

“Ora!” digo-lhe, “Já muito faz

Quem com calma espera sete dias.”


Há moça que mereça tal expectativa?

Ou moço que ainda valha o sacrifício?

A paixão pode ser intensa no início,

Mas se desbota com espera abusiva.


E o vermelho do olho choroso

Se esmaece em nuances de rosa

Assim como a lágrima confunde o brilho


Que marca um novo olhar ansioso.

Seja em poesia ou em prosa

A paixão nova é o estribilho.


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Um do poeta:


Sete anos de pastor Jacó servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela,
Mas não servia ao pai, servia a ela,
E a ela só por prêmio pretendia.

Os dias, na esperança de um só dia,
Passava, contentando-se com vê-la;
Porém o pai usando de cautela,
Em lugar de Raquel lhe dava Lia.

Vendo o triste pastor que com enganos
Lhe fora assim negada a sua pastora,
Como se a não tivera merecida,

Começa de servir outros sete anos,
Dizendo: - Mais servira, se não fora
Para tão longo amor tão curta a vida!


domingo, 4 de janeiro de 2009

Doppelgänger


Ela:

Ela, que correu o mundo.

Ela, que não se escondeu.

Ela, que beijou sua boca.

Ela, que não sou eu.



Eu:

Eu, que busquei segurança.

Eu, que pensei que vivi.

Eu, que sonhei acordada.

Eu, que envelheci.


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O doppelgänger é uma duplicata de alguém, um outro você lendário que existe. Algumas pessoas afirmaram já ter visto seu doppelgänger, o que é usualmente interpretado como sinal de má sina – um mau presságio. Eu interpreto como sinal de pouco juízo.

A literatura aproveitou essa idéia do duplo explicita e implicitamente. Em Frankenstein, de Mary Shelley, Walton, o capitão, pode ser visto como o doppelgänger de Victor Frankenstein, já que os dois são obcecados pelo conhecimento e ambos parecem desconsiderar o elemento humano em seus propósitos. É comum que um dos dois elementos do duplo sirva de exemplo e acabe morrendo para a redenção do seu outro. Frankenstein morre e Walton aprende com a história do doutor e resolve deixar os perigos do Pólo Norte e voltar para casa. É salvo.

Às vezes eu queria um doppelgänger para se dar mal no meu lugar...