quinta-feira, 21 de agosto de 2008

"Intertextualizando"

Eu não sou oco.
Eu teço o fio, eu amo muito e odeio
Um pouco.
Mas não sou oco.
Eu canto e rio e ainda assim eu sofro
Feito um louco.
Mas não sou oco.
Eu sou e eu grito a angústia de ser
E fico rouco.
Mas não sou oco.
Eu não sou oco.
--------

We are the hollow men
We are the stuffed men
Leaning together
Headpiece filled with straw. Alas!
Our dried voices, when
We whisper together
Are quiet and meaningless
As wind in dry grass
Or rats' feet over broken glass
In our dry cellar

Shape without form, shade without colour,
Paralysed force, gesture without motion;

Those who have crossed
With direct eyes, to death's other Kingdom
Remember us--if at all--not as lost
Violent souls, but only
As the hollow men
The stuffed men.

T.S. Eliot

Esta é apenas a primeira parte de “Hollow Men”, de T. S. Eliot. Na íntegra, pode ser encontrado em http://poetry.poetryx.com/poems/784/ . Acho que Eliot quis passar a idéia de que é melhor ser qualquer coisa a ser vazio, oco, “quiet and meaningless”. Mesmo ser uma alma perdida e violenta é melhor do que ser oco ou empalhado. E ainda, alguma forma de ação é necessária na vida, caso contrário, somos força paralisada, sem voz e sem espaço.
Há um poema de Francisco Otaviano que, de forma mais simples, mais popular e menos criativa, mas bonitinha, transmite uma idéia semelhante:

Ilusões de Vida

Quem passou pela vida em branca nuvem
E em plácido repouso adormeceu;
Quem não sentiu o frio da desgraça,
Quem passou pela vida e não sofreu,
Foi espectro de homem - não foi homem,
Só passou pela vida - não viveu.

2 comentários:

dade amorim disse...

Bom poeta sempre nos ensina e não precisa de pose de mestre - diz para o vento, para si mesmo, para quem por acaso escutar. Diz porque precisa. Diz coisas que escapam à percepção das pessoas em geral, ou o que sentimos mas não sabíamos como dizer.
E a "tradução" ficou muito fiel.
Beijo!

Alexandre Amorim disse...

A repetição no final do poema, reafirmando que "eu não sou oco", me lembrou o final daquele poeminha de Pessoa que a gente tanto gosta: "merda! sou lúcido". Não sei se está tão relacionado, mas vc sabe que é uma obsessão minha.
beijo na boquinha.