quarta-feira, 30 de julho de 2008

Black


Diálogo psicanalítico

Eu:
- Minha mente turva é minha prisão.
Minha alma negra, minha danação.
Tatuei de preto o meu coração.
Tenho salvação?

Minha psicóloga:
- Não.

(O que me vale é ela não saber que minha alma ainda é leve e colorida, como folha de papel pintada com giz de cera. A tatuagem é negra de nanquim e esconde a cor que a dor do prego revela ao arranhar a superfície.)
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“All the love gone bad turned my world to black.
Tattooed all I see. All that I am. All that I’ll be.”

O interessante da deprê do Pearl Jam é que o Eddie Vedder parece ser um cara bem resolvido com ele mesmo. No entanto, é claro que isso não quer dizer nada, pois as tristezas pelas quais a gente passa na vida são mesmo difíceis de apagar, como o próprio Vedder desafia em “Jeremy”: “Try to forget this. Try to erase this.” Cantar as tristezas é uma maneira de lidar com elas, eu penso, e talvez de exorcizá-las. Mas eu nunca vi nada tão triste quanto uma tatuagem negra na alma.
Ironicamente, a tristeza da letra da canção “Black” paralisa o artista: “Sheets of empty canvas, untouched sheets of clay were laid spread out before me as her body once did.”
Além disso, Vedder canta de um jeito tão sofrido que a gente até se compadece de seu sofrimento. Para mim, “Black” é a música mais linda do mundo.

E a letra de “Even Flow”, hein? Alguém?

http://youtube.com/watch?v=ePjESN9pRdg

2 comentários:

Gabriel disse...

Pensando nesse tipo de letra e também no comentário "black é a música mais linda do mundo" lembrei-me de Comfortably Numb do Pink Floyd...Não tenho certeza, mas acho que segue a mesma linha...Só que na minha opinião, Comfortably Numb é levemente superior.https://www.blogger.com/comment.do
Blogger: KING OF PAIN - Postar um comentário

king of pain disse...

Há muito tempo eu não ouvia a música do Pink Floyd e foi bom você falar sobre ela, porque ela é linda. Comparando com Black, são músicas sobre tristezas diferentes, eu acho. A do Pearl Jam é uma tristeza causada por muita emoção, o que eu considero uma tristeza boa. É querer o que não se tem mais, é uma tristeza miserável, mas é sinal de que você está vivo e pulsando, o que, para mim, é tudo que se pode estar.
Já Comfortably Numb é sobre uma tristeza maior, ruim mesmo. Estar confortavelmente entorpecido mostra uma dificuldade de lidar com os sentimentos (e o sofrimento) que gera tanta infelicidade que o sujeito tem que desistir deles.
As duas músicas são belas, mas essa história de levemente superior... sei disso não...